Entre Fatos e Crenças

Vivemos em uma época em que a distinção entre fato e opinião parece cada vez mais turva. Com a valorização da liberdade de expressão, um pilar fundamental das sociedades democráticas, surge também um desafio: até que ponto devemos respeitar o direito de alguém sustentar uma opinião manifestamente equivocada, sobretudo quando ela entra em conflito com evidências verificáveis?

Opiniões são importantes, sim. Elas expressam experiências, interpretações e perspectivas individuais sobre o mundo. No entanto, quando uma opinião contraria dados objetivos, ignora estudos consolidados ou rejeita evidências sólidas, ela deixa de ser apenas uma visão pessoal e pode se tornar um obstáculo ao progresso coletivo. Isso é especialmente preocupante no campo da ciência, onde o conhecimento não é baseado em achismos, mas em observações rigorosas, métodos replicáveis e revisões constantes.

A ciência não é feita de verdades absolutas, mas de verdades provisórias fundamentadas nas melhores evidências disponíveis no momento. Um debate científico legítimo não é uma disputa de egos ou crenças, mas um esforço conjunto para ampliar a compreensão da realidade. É um diálogo que parte de premissas compartilhadas, o compromisso com a racionalidade, com os dados e com a abertura à revisão crítica.

Portanto, respeitar o direito à opinião não deve significar aceitar passivamente discursos que negam evidências científicas ou que promovem desinformação. É possível, e necessário, defender a liberdade de expressão ao mesmo tempo em que se exige responsabilidade sobre o que é dito, sobretudo em espaços públicos e formadores de opinião.

Em suma, a convivência democrática exige que saibamos ouvir, mas também que saibamos questionar. E, principalmente, que saibamos reconhecer que, diante dos fatos, não há "opinião" que possa se sobrepor à realidade.

Cleiton dos Santos 

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