Pertencer é Ressonar
Durante muito tempo, eu carreguei dentro de mim um desejo profundo de pertencimento. Queria me encaixar, ser aceito, ser amado. Achava que, para isso, precisava da aprovação dos outros, precisava moldar minha forma para caber em espaços que, na verdade, não foram feitos para mim. Vivia na expectativa de agradar, de ser reconhecido, de ser escolhido. E isso, por um tempo, me fez sentir ainda mais desconectado de quem eu realmente era.
Com o tempo, e com as dores inevitáveis do processo, fui percebendo algo essencial: assim como numa bela canção, o que realmente importa é a resolução. É na resolução que a música encontra seu repouso, sua verdade. As notas de passagem, aquelas que criam tensão, que instigam, que fazem o coração bater mais forte, são importantes, sim. Elas expressam emoção, criam movimento. Mas são transitórias. Elas existem para conduzir a algo maior: a harmonia final, o ponto em que tudo faz sentido, o lugar onde a alma descansa.
Essa metáfora musical me fez enxergar que não há nada de errado em viver momentos de busca e até de desajuste. Mas que viver tentando se encaixar à força em algo ou em alguém que não vibra na mesma frequência é um desgaste desnecessário. É como tentar afinar um instrumento usando a referência errada.
Se você pegar um diapasão e fizer soar sua nota, digamos, um lá, e colocá-lo próximo a outro diapasão afinado na mesma frequência, ele começará a vibrar sozinho, em ressonância. Sem esforço. Sem ruído. Mas, se o outro estiver em uma frequência diferente, nada acontece. Nenhuma vibração, nenhuma sintonia. E isso é tão simbólico. Entendi, então, que não se trata de ser aceito por todos, mas de encontrar aqueles que vibram na mesma frequência que a nossa. E isso só é possível quando a gente para de fingir ser o que não é.
Demorei a compreender, mas hoje vejo com clareza: pessoas que estão na mesma frequência acabam se encontrando. Elas se reconhecem não pelas palavras que dizem, mas pela energia que emanam, pela direção em que caminham, pelas escolhas que fazem. E quando isso acontece, não há mais necessidade de aprovação ou de esforço para pertencer. A conexão simplesmente flui.
Por isso, hoje meu conselho, principalmente a mim mesmo, é simples: não negocie seus valores. Não diminua seu brilho para caber em espaços apertados. Não silencie sua essência por medo de rejeição. Viva a vida com coragem. Visite os lugares que despertam sua curiosidade, se envolva com o que te faz vibrar, se cerque do que te inspira. Faça as coisas que te dão alegria, mesmo que ninguém mais entenda. Confie no seu ritmo.
A tensão que hoje parece desconfortável pode ser, na verdade, apenas uma nota de passagem. Uma fase que prepara o caminho para a resolução. E, quando ela chegar, você vai perceber: a verdadeira sintonia não exige esforço. Ela acontece com leveza, com verdade, com paz.
E é nesse momento que tudo se encaixa. A alma relaxa. A canção faz sentido. E você entende que, afinal, sempre esteve no caminho certo, apenas precisava afinar-se consigo mesmo.
Cleiton dos Santos
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