Fé, ciência e a escolha de crer
A ideia de que "é preciso mais fé para ser ateu do que para ser cristão" revela uma tensão antiga entre fé e razão, entre crença religiosa e investigação científica. Para o cristão, a fé pode parecer uma resposta direta, consoladora e pessoal diante do mistério da existência. Deus é o fundamento último, e isso basta, mesmo quando há argumentos contrários, o fiel pode simplesmente confiar, seguir, crer.
Já para o ateu, especialmente aquele comprometido com o método científico, o caminho é mais árduo. O universo é um lugar imenso, impessoal e indiferente. Não há garantias de sentido, de propósito, de moralidade objetiva ou vida após a morte. E ainda assim, o ateu opta por não recorrer a explicações transcendentes. Isso exige coragem e uma fé diferente: fé na razão, no ceticismo, na dúvida como método. É aceitar que algumas perguntas talvez não tenham resposta definitiva, e ainda assim buscar.
A filosofia de David Hume nos lembra que até nossas crenças mais básicas, como “o sol nascerá amanhã”, não têm garantia absoluta. Se nem o sol tem sua constância assegurada pela lógica, quanto mais a existência de um deus invisível. O ateu encara essa incerteza com seriedade radical. O cristão, por sua vez, muitas vezes prefere uma confiança serena, que, embora possa parecer “mais simples”, também exige um tipo próprio de entrega.
No fim, crer ou não crer envolve um ato de fé, mas em direções diferentes. E talvez o ponto mais honesto esteja não em qual fé é “mais fácil”, mas em qual verdade se está disposto a buscar, mesmo quando ela desconforta.
Cleiton dos Santos
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