Parapsicologia e Psicanálise
O termo pseudociência é usado para descrever práticas ou campos de estudo que reivindicam uma base científica, mas não seguem os métodos e critérios aceitos pela comunidade científica. Nessa categoria frequentemente entram a parapsicologia e, em muitos contextos acadêmicos, a psicanálise.
Apesar disso, é fundamental reconhecer que o termo pseudociência se refere a falsa uma ciência e vem sendo mal empregado. Sabendo disso é preciso entender que nem toda teoria é igual em impacto, intenção ou complexidade. Psicanálise e parapsicologia ilustram bem essa distinção.
Psicanálise: Entre ciência, filosofia e clínica
A psicanálise, proposta inicialmente por Sigmund Freud, não é estritamente uma ciência empírica. Seus conceitos centrais, como o inconsciente, os mecanismos de defesa e os estágios do desenvolvimento psicossexual, não são, em sua maioria, passíveis de verificação objetiva e replicável, um critério importante da ciência moderna. Por isso, muitos a consideram uma pseudociência sob a ótica do falsificacionismo de Karl Popper.
No entanto, a psicanálise tem valor histórico, clínico e cultural:
Influenciou profundamente a psicologia moderna, a psiquiatria, a arte, a literatura e até os movimentos sociais.
Sua prática clínica, ainda hoje, é adotada por muitos terapeutas, com resultados subjetivos mas, por vezes, significativos.
Ela se propõe a compreender o sujeito, mais do que a simplesmente classificá-lo ou corrigi-lo, algo que ressoa com a complexidade da mente humana.
Assim, mesmo sendo criticada por não se enquadrar nos moldes rígidos da ciência empírica, a psicanálise não apela ao sobrenatural, nem promete curas milagrosas. Isso a diferencia de maneira importante da parapsicologia.
Parapsicologia: Entre fenômeno e fé
A parapsicologia, por sua vez, trata de fenômenos que desafiam não apenas o método científico, mas os próprios fundamentos da física e da biologia. Acreditar em telepatia, clarividência ou comunicação com espíritos é apostar em mecanismos não comprovados e, até hoje, irreproduzíveis sob controle experimental rigoroso.
O problema se agrava quando essas ideias são misturadas com viés religioso, esotérico ou místico, e são oferecidas como formas de terapia ou diagnóstico a pessoas em situação de vulnerabilidade psicológica. Isso pode ser eticamente problemático, pois:
Explora a ignorância científica do público;
Promove expectativas irreais;
Pode atrasar ou substituir tratamentos baseados em evidências.
Neste sentido, o uso da parapsicologia no campo da saúde mental não é apenas pseudocientífico, é potencialmente perigoso e antiético.
A responsabilidade do profissional de saúde mental
A mente humana é complexa, e o sujeito é influenciado por múltiplas variáveis, biológicas, psicológicas, sociais e culturais. Nenhuma abordagem terapêutica tem todas as respostas, mas isso não justifica abrir mão do rigor científico.
Oferecer práticas sem respaldo empírico, ainda que com boas intenções, é uma forma de desonestidade com o paciente e com a ciência. E justamente por lidarmos com vidas humanas, a responsabilidade ética e epistemológica é ainda maior.
Conclusão
A psicanálise e a parapsicologia compartilham o "rótulo" de pseudociência, mas não o mesmo peso ético ou impacto clínico. A primeira, apesar de não seguir os moldes científicos tradicionais, oferece uma lente rica e culturalmente enraizada para entender o sujeito. A segunda, ao apelar para o inexplicável, corre o risco de afastar o indivíduo do autoconhecimento e da ajuda eficaz.
A crítica à pseudociência deve, portanto, ir além de um julgamento técnico: ela deve considerar intenção, impacto e contexto ético. O compromisso com o bem-estar humano exige esse discernimento.
Cleiton dos Santos
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