O Povo da Aliança e os Olhos do Mundo

O povo judeu é um dos mais antigos ainda em existência. Carrega consigo milênios de história, fé, tradição e também dor, marcada por perseguições, diásporas e preconceitos. São chamados nas Escrituras de "Povo da Aliança", pois, segundo a fé bíblica, Deus estabeleceu com eles um pacto eterno através de Abraão.

Mas com o passar dos séculos, sobretudo após o surgimento do cristianismo, os judeus passaram a ser mal compreendidos e injustamente julgados por muitos cristãos. Uma das maiores distorções é a ideia de que os judeus são "culpados" pela morte de Jesus. No entanto, essa é uma interpretação reducionista e perigosa, que ignora o contexto político, religioso e espiritual do acontecimento. Jesus era judeu. Seus discípulos eram judeus. O cristianismo nasceu do seio do judaísmo. A cruz não é culpa de um povo, mas, segundo a fé cristã, é a expressão máxima do amor divino.

Outro equívoco comum é pensar que todos os judeus são religiosamente iguais, ou que seguem um único tipo de fé. A verdade é que o judaísmo é tão diverso quanto qualquer outra tradição. Existem:

Judeus religiosos ortodoxos, que seguem estritamente a Torá e a tradição rabínica;

Judeus reformistas e conservadores, que reinterpretam a fé em diálogo com o mundo moderno;

Judeus seculares ou culturais, que se identificam com o povo e a cultura, mas não seguem práticas religiosas;

Judeus agnósticos e ateus, que não acreditam em Deus, mas mantêm sua identidade histórica e étnica;

Judeus cristãos, como os judeus messiânicos, que creem que Jesus é o Messias, ainda que a maioria do judaísmo tradicional não os reconheça como parte da fé judaica.

Ou seja, ser judeu pode ser uma questão de fé, cultura, tradição, etnia ou identidade histórica, e tudo isso ao mesmo tempo. Reduzir esse povo a uma única visão espiritual é desrespeitar a complexidade da sua existência.

Enquanto isso, muitos cristãos se sentem no direito de julgar os judeus como "cegos espirituais", "povo incompleto" ou "rejeitado". Mas esquecem que, segundo o próprio apóstolo Paulo, "os dons e o chamado de Deus são irrevogáveis" (Romanos 11:29), e que a raiz da fé cristã é judaica.

Também é preciso lembrar que boa parte do ódio histórico contra os judeus veio exatamente de instituições cristãs: cruzadas, inquisições, expulsões, queimas de livros, conversões forçadas e até apoio a regimes antissemitas. Isso criou feridas profundas e desconfiança mútua, que ainda hoje precisam ser curadas com verdade e humildade.

Cleiton dos Santos