O Café

Havia uma xícara sobre a mesa. O vapor subia leve, como um sussurro dizendo: "Agora é o momento." Mas quem a preparou se distraiu. Foi atender ao mundo, os compromissos, as mensagens, os pensamentos, e quando voltou, o café estava frio.

Reclamou. Como se a bebida tivesse obrigação de esperar. Mas o café não espera. Assim como não esperam os sentimentos, os encontros, os silêncios partilhados. Tudo o que tem calor pede presença.

O tempo, esse artesão invisível, não para por ninguém. O mestre budista Thích Nhất Hạnh escreveu:
"A fonte do amor está em nós, e podemos ajudar os outros a perceber muita felicidade. Uma palavra, uma ação ou um pensamento pode reduzir o sofrimento de outra pessoa e trazer alegria."

Mas se não há gesto, se não há palavra, o amor esfria. Não por falta de sentimento, mas por falta de cuidado. É como escrever um poema e nunca lê-lo. Como acender uma chama e depois esquecer que o fogo precisa de lenha.

Nas tradições sufi, diz-se:
"O que você busca também o busca. Mas se você não se mover em direção a ele, passará por você como o vento passa pelas flores que não desabrocharam."

O mesmo vale para amizades esquecidas, para promessas não revisitadas, para beijos prometidos e adiados. A vida exige presença. E quem se ausenta demais corre o risco de voltar e encontrar o afeto ali, sim, mas sem perfume, sem vapor, sem vida.

Não é que o café tenha mudado. Foi você que demorou.

Por isso, seja com o outro como se bebe um bom café: atento, presente, com gratidão. Porque o instante é o templo onde a alma verdadeiramente habita. E tudo que importa mora nesse pequeno espaço entre o agora e o nunca mais.

Cleiton dos Santos 

Comentários

Postagens mais visitadas