A natureza não tolera inutilidades
Na vastidão do universo natural, tudo existe com um propósito. Cada ser, elemento ou fenômeno cumpre uma função no delicado equilíbrio dos ecossistemas. Quando algo se torna inútil, ou seja, quando deixa de contribuir para o equilíbrio, para a continuidade ou para a adaptação, a própria natureza o relega ao esquecimento, ao desaparecimento. Este princípio silencioso, mas infalível, pode ser observado ao longo da história evolutiva: espécies que não se adaptam, órgãos que não servem mais, comportamentos que deixam de ser vantajosos, todos são extintos, eliminados ou transformados.
Este mesmo princípio pode, filosoficamente, ser transportado para o cotidiano humano. O ser humano, apesar de dotado de consciência e cultura, ainda é parte integrante da natureza. E como tal, também é regido, ainda que em outras camadas, por leis semelhantes. No contexto social, profissional e até emocional, aquilo que não possui função, que não contribui, que não promove crescimento, tende ao abandono. Ideias ultrapassadas que não dialogam com o presente, hábitos que corroem mais do que constroem, atitudes que não se conectam com o coletivo, tudo isso se torna, aos poucos, irrelevante.
Porém, é essencial lembrar que a inutilidade aqui não se refere à produtividade cega ou ao valor utilitário no sentido econômico. O que é inútil à natureza é aquilo que está completamente desconectado do todo, aquilo que não dialoga com a harmonia geral. No ser humano, isso pode se manifestar na falta de propósito, na ausência de empatia, no egoísmo que isola, na passividade que impede o fluxo da vida.
Assim como a natureza corrige excessos, recicla o que não serve e transforma o que está estagnado, o ser humano também precisa se rever. Não para atender a uma lógica de desempenho constante, mas para não se tornar um corpo estranho ao tecido vivo da existência. Ser útil, neste sentido, é estar em sintonia com o mundo, contribuindo, mesmo que silenciosamente, para algo maior do que o próprio ego.
A natureza, com sua sabedoria brutal, não tolera o inútil porque tudo nela caminha para a manutenção da vida. E talvez essa seja a grande lição: se queremos permanecer, devemos nos perguntar constantemente, qual o meu lugar no todo? O que em mim precisa ser reciclado, adaptado, transformado? Porque, no fim, sobreviver é, acima de tudo, saber ser parte.
Cleiton dos Santos
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