Voltemos ao Mestre – Jesus antes de Paulo


Ao longo dos séculos, o Cristianismo se expandiu pelo mundo carregando consigo uma mensagem de salvação, esperança e transformação. No entanto, muitos não percebem que a fé cristã que conhecemos hoje carrega uma forte influência de Paulo de Tarso, e não apenas do próprio Jesus de Nazaré.

Jesus, o mestre judeu, caminhava entre os pobres, os excluídos e os quebrantados. Sua mensagem era clara: o Reino de Deus está próximo, e esse Reino não é conquistado por declarações de fé ou dogmas, mas por viver o amor, a justiça e a misericórdia. Suas palavras sempre nos apontam para a prática: “Nem todo o que me diz ‘Senhor, Senhor’ entrará no Reino dos Céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai” (Mateus 7:21).

Já Paulo, em seus escritos, parece tomar outro rumo. Ele afirma que a salvação vem pela fé, independentemente das obras (Romanos 3:28), que a Lei já não tem valor (Gálatas 3:24-25), e que bastaria crer no coração e confessar com a boca para ser salvo (Romanos 10:9). Com isso, a cruz se tornou um símbolo mais poderoso do que o Sermão da Montanha, e a fé passou a ser mais valorizada que a compaixão vivida no cotidiano.

Jesus nos convida a carregar a própria cruz, a amar até o inimigo, a perdoar setenta vezes sete, a buscar a humildade, o serviço e o cuidado com o próximo. Ele falava de uma vida ética, transformada, encarnada nas ações. Paulo, por outro lado, teologizou sobre a fé, o pecado e a graça em categorias muitas vezes abstratas, e embora tenha sido vital para a expansão da fé cristã, moldou uma religião que, muitas vezes, afastou-se do carpinteiro galileu.

Isso não é uma acusação, mas um chamado. Um convite à reflexão.

Será que estamos seguindo a Jesus ou ao Cristianismo de Paulo?

Será que as igrejas modernas, com sua ênfase em doutrinas, denominações, sistemas hierárquicos e promessas de prosperidade, não se distanciaram da simplicidade e radicalidade do Evangelho que Jesus ensinou?

É hora de voltarmos ao centro. Não a um sistema religioso, mas ao Homem que andou sobre as águas, que tocou os leprosos, que confrontou os poderosos e que lavou os pés dos discípulos. Jesus nunca escreveu uma epístola, mas deixou pegadas na areia para que andássemos por elas.

Sigamos, pois, o Cristo vivo. Que a fé não seja apenas crença, mas vida vivida. Que nossas igrejas se tornem novamente comunidades do Reino. Que nossa espiritualidade se inspire menos nos argumentos de Paulo e mais nas atitudes de Jesus.

Afinal, o verdadeiro cristianismo não é uma doutrina sobre Jesus, mas a vida de Jesus vivida por seus seguidores.

Cleiton dos Santos 

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