Lições de uma Alma que Aprendeu a Dizer Não

Durante muito tempo, acreditei que ser bom era o maior valor que alguém podia ter. Fui aquele que estendeu a mão, que perdoou o imperdoável, que acreditou nas pessoas mesmo quando elas já haviam mostrado quem eram. Mas, com o tempo, percebi que o mundo nem sempre recompensa a bondade, às vezes, ele a devora. As pessoas confundem gentileza com fraqueza, e quando percebem que você não reage, passam a usar da sua boa vontade como se fosse uma obrigação. Aprendi, à custa de cicatrizes, que ser bom demais pode ser um fardo. Não é a bondade que nos sustenta, é a justiça.

Ser justo é diferente de ser bom. O bom cede sempre, o justo equilibra. O bom busca agradar, o justo busca a verdade. E a verdade, por mais dura que seja, liberta. Descobri que a gentileza em excesso te torna útil, mas não valioso. Ser útil é bom enquanto te servem, mas ser valioso é ser lembrado mesmo quando você não está mais presente. E para isso, é preciso saber dizer “não”, é preciso reconhecer o próprio limite, é preciso entender que o amor verdadeiro não é submissão, é respeito, inclusive por si mesmo.

A vida tem um jeito curioso de nos ensinar essas lições. Ela nos fere, nos dobra, nos coloca de joelhos, e é justamente aí que crescemos. Eu aprendi a extrair força do caos, a encontrar sentido nas quedas e a fazer das dores uma escola. A instabilidade, que um dia me amedrontou, hoje é o terreno onde mais aprendo. Descobri que o que parece mal, às vezes, é apenas o início de uma libertação. Assim como um pai que nega algo ao filho, não por maldade, mas por amor, a vida também nos nega caminhos que nos destruiriam, mesmo que, no momento, não entendamos o porquê.

Cada ferida que carreguei me moldou. Cada silêncio me ensinou mais do que mil palavras. E percebi que a vida repete a lição até que a gente aprenda, não há atalhos. A dor é o idioma mais honesto do aprendizado.

Hoje, não busco mais ser bom. Busco ser justo, comigo, com os outros e com o tempo que me resta. Ser justo é saber quando ir embora, quando se calar e quando estender a mão. É compreender que não há virtude em se perder para salvar quem não quer ser salvo.

E se um dia você ler estas palavras e eu já não estiver mais aqui, quero que saiba que precisei ser flexível, mas nunca fui solúvel. Dobrei-me muitas vezes, mas nunca deixei de ser quem eu era. Não lamento as dores que vivi, elas me ensinaram. Lamento apenas as dores que causei. Lamento os abraços que não dei, as palavras que calei, o carinho que faltou em momentos em que alguém talvez precisasse de mim.

Mas, acima de tudo, quero que saibam: eu amei. Amei com tudo o que fui, com tudo o que pude, mesmo sem saber demonstrar da melhor forma. Porque, apesar de tudo, o amor, esse sim, foi a única coisa que permaneceu justa dentro de mim.

Cleiton dos Santos 


Comentários

Postagens mais visitadas