A Semeadura
Desde os tempos mais antigos, o ser humano percebeu que a vida obedece a um ritmo: tudo o que se planta, um dia, retorna.
O agricultor sabia que o solo não engana, quem semeia trigo não colhe espinhos. E os sábios perceberam que o mesmo vale para o coração humano.
Assim nasceu o princípio que atravessou os séculos, os templos e os livros sagrados: a Lei da Semeadura.
No Cristianismo, Paulo resumiu:
“Não vos enganeis: de Deus não se zomba; porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.” — (Gálatas 6:7)
Aqui, o campo é o coração, e a colheita é o fruto das nossas escolhas.
Os hindus, muito antes, já chamavam essa força de Karma, a lei de causa e efeito moral.
“Como o homem semear, assim colherá; o bem traz felicidade, o mal traz sofrimento.” (Bhagavad Gita 4:17)
Para eles, cada ato é uma semente lançada no solo do tempo, e o destino é a colheita inevitável.
No Budismo, o mesmo ensinamento ganha tom de introspecção:
“Tudo o que somos é resultado do que pensamos. Se alguém fala ou age com mente pura, a felicidade o segue como uma sombra.” (Dhammapada 1:1-2)
Aqui, não se fala em punição divina, mas em responsabilidade interior, a mente é o campo, e o pensamento é a semente.
O Judaísmo, base do pensamento ético ocidental, expressa a mesma certeza:
“Porque o Senhor retribuirá a cada um segundo as suas obras.” (Salmos 62:12)
A justiça divina é como o ciclo da colheita: invisível aos olhos apressados, mas infalível com o tempo.
No Islamismo, o Alcorão também confirma o princípio universal:
“Quem fizer o bem, por menor que seja, verá; e quem fizer o mal, por menor que seja, verá.” (Surata Az-Zalzalah 99:7–8)
Nenhuma ação se perde, nenhuma intenção passa despercebida. Tudo tem peso e retorno.
Nas tradições africanas e afro-brasileiras, como o Candomblé e a Umbanda, fala-se do Axé, a energia que se move conforme as ações humanas.
O que se envia, retorna. Aquele que distribui o bem, fortalece o próprio caminho. É a colheita espiritual das boas oferendas e das palavras justas.
Até o Espiritismo, que herdou muito da tradição cristã e oriental, reafirma esse princípio:
“A cada um segundo as suas obras.” (Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. 27)
Nada se perde; tudo educa. A semeadura é o aprendizado, e a colheita é a evolução do espírito.
E mesmo fora dos templos, essa sabedoria ecoa nas palavras simples dos mais velhos.
O agricultor, que já viveu muitas colheitas, ensina sem citar escrituras:
“Filho, quem planta vento colhe tempestade, mas quem planta amor colhe sombra boa.”
A sabedoria dos livros antigos e a experiência dos que viveram muito se encontram no mesmo ponto:
a vida é um campo, e nós somos os semeadores.
O tempo é o juiz silencioso que faz brotar aquilo que lançamos nele.
Por isso, os antigos diziam que só o tolo planta descuido esperando colher paz.
Aprender com as escrituras é escutar a voz da eternidade; ouvir os mais velhos é escutar a voz do tempo.
E ambas, juntas, nos lembram que o destino não é sorte, é semeadura.
E por mais moderno que o mundo se torne, ninguém colhe o que não plantou.
Cleiton dos Santos
Comentários
Postar um comentário