MORTE
O
que queremos da vida? O que esperamos ser em nossa morte? Só temos condições de
construir algo na vida se cada dia se dirigir a carregar um tijolo da
construção da vida e se não pensar em construir algo, obviamente não
construiremos nada. No entanto por que é importante pensar na morte?
O
romano Marco Aurélio dizia que devemos tomar a morte como conselheira. Não
devemos pensar na morte apenas por ela propriamente dita, mas, por causa da
vida. Lembrar que se vai morrer pode dar uma possibilidade de vida totalmente
diferente.
Existe
uma teoria chamada teoria do impacto, que diz que no contraste nasce a
consciência. Imagine que valorizamos algo somente depois que perdemos, uma
cidade que moramos somente no dia saímos dela e ate mesmo só damos
valor a uma pessoa quando ela se vai. O contraste entre duas cores, por
exemplo, como sabemos sobre uma, e outra? Por que onde termina uma, começa
a outra. No contraste de dois planos se obtêm a consciência. Imagine que o
universo fosse inteiramente cinza, não teríamos a consciência do cinza. Imagine
como saberia o sabor do doce se nunca tivesse experimentado o amargo. Pitágoras
costumava dizer que soava o tempo todo no universo uma nota musical, a musica
das esferas. Segundo não ouvimos por que ela jamais cessa, não se produz o
contraste entre som e silêncio, portanto não ha consciência. Quando temos o
contraste entre dois planos temos consciência entre eles e passamos a valorizar
e avaliar corretamente cada um dos dois.
Quando
teríamos então a melhor condição de avaliarmos o valor da vida? Diante da
morte. No contraste entre a vida e a morte temos uma pedra de toque para
percebermos qual é o valor da vida. Quando pensamos na vida, colocamos em
pauta apenas o ter e o fazer, o ser fica sempre em segundo plano. No entanto
mediante a morte as pessoas não se preocupam com o que acumularem, mas com o
que realmente tem valor. O “ser" reina então e apenas as lembranças que
realmente importam ficam vivas. Viver uma vida longa e inconsciente é uma vida
vazia, muitos que foram laureados pela historia viveram pouco, mas
conscientemente uma vida mais intensa.
Em
um estudo onde uma médica psiquiátrica avaliava seus pacientes doentes
terminais ela afirmou que quanto mais materialistas eram seus pacientes, mais
raramente chegavam lúcidos ao momento da morte. Diante da morte fica claro o
que é real, e o que não é. Pessoas
que entregavam toda a sua vida por uma coisa que não tem consistência a
consciência não suporta esse fato e se evade, uma alienação mental como uma
forma de a consciência não confrontar o fato que não percebe muitas coisas
reais na vida que ficou pra traz, por que diante da morte só vale o que
somos, o que construímos no campo do ser. Passamos a maior parte de nossa
vida inconscientes, a grande prova é que somente lembramos dos momentos conscientes, as memorias bases,
de longo prazo. O restante se perde nas memorias de pouco prazo
A
vida é um recurso que pode ser bem ou mal administrado, bem ou mal empregado.
Diante de uma mesma quantidade de
recursos uma pessoa faz maravilhas e outra não faz nada. Existe inclusive
uma parábolas bíblica dos talentos que fala sobre isso. Três homens recebem a
mesma quantidade de moedas, na mão de um se perde, de outro se multiplica e
outro apenas é guardada e se conserva.
Devemos decidir se independente do tempo de vida teremos uma vida longa e vazia
ou uma talvez uma vida curta e intensa. Quando digo isso é fazendo uma reflexão
interna pelo tempo que perdi, dias que pelos quais não vivi conscientemente e
não me recordo como memória base de lembranças, por que se perderam no
esquecimento.
Imagine
agora se não existisse a morte e tivesses todo o tempo para ver aquela pessoa
que amamos ou ate mesmo pra aprender algo que desejamos. Imagine se houvesse
todo o tempo do universo pra aprender com seus erros. As coisas só tem valor
por causa da morte e do fato de não sabermos ao certo quanto tempo temos aqui.
Eu vejo na morte o verdadeiro segredo da vida. Se no fim existir uma transição
de consciência para outro plano ou ate
mesmo que ela fique adormecida ate poder reencarnar em seu verdadeiro corpo
como dizem os cristãos, viver uma vida consciente e se comprometer com o nosso
meio é a melhor opção.
Como disse Platão, é injusto querer vencer a inconsciência
da morte quando não lutamos pela consciência na vida.
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