PRESSUPOSTOS
A primeira vez que questionei minha existência
foi aos 14 anos, minha professora propôs um trabalho onde meu título em questão
era, "Quem sou? De onde vim? Pra onde vou?" Coloquei varias perguntas
e tentei responder com o pouco conhecimento que eu tinha. Minhas bases de
religião não eram boas, assim como as bases científicas ainda eram estranhas.
Me via entre a ciência que era exposta na escola e a teologia da igreja. O
tempo se passou e apesar de meus esforços, naquele momento só queria compreender como funcionava a música. No
entanto, perguntas frequentes acerca da origem, não apenas da vida, mas,
com relação à natureza ou o próprio cosmo, ainda perturbava meus pensamentos.
Decidi unir aquilo que aprendia nas
ciências com as diversas historias da bíblia e sua filosofia me parecia mais
prudente naquele instante.
Com precisos 20 anos decide comprar meu
primeiro livro chamado de Bíblia Sagrada de Estudo. O engraçado nisso é que havia
mais pressupostos daquele que havia publicado o livro do que a historia da
mesma em geral. Foram esses pequenos relatos sobre a historia do livro que me
chamava mais atenção. Escrevi-me ao curso de teologia da faculdade Refidim de
Joinville. Foram dois anos e 24 módulos exaustivamente chatos, não constavam
ali coisas que realmente me chamavam a atenção, eu queria saber onde estão os
textos originais da bíblia, qual sua datação e em que material foram escritos,
estado de preservação e etc.
João Ferreira de Almeida revista
e corrigida foi minha primeira tradução a ser questionada. Por que foi revista
e corrigida? Teria o autor cometidos erros no seu trabalho? Isso me levou a
buscar por saber quem foi esse tal homem. Surpreendentemente ele não tinha tido
acesso aos textos originais para realizar o trabalho de sua vida. Descobri
também que a sua obra foi corrigida baseada na teoria da conflação, texto grego
publicado pela primeira vez em 1870 de Westcott e Hort. No entanto se o texto
desses dois britânicos foi publicado em 1870 onde estariam os textos originais.
Foi nesse momento que minhas convicções de unir o Big Bang ao dedo de deus
começaram a se distanciar.
Conflitos começaram a revelar dúvidas,
pois comecei a questionar não só a autoridade da bíblia sobre minha
vida, como também dos lideres religiosos ao qual
era subordinado espiritualmente. Vários conflitos se passaram em minha
mente, as informações que obtive ate ali eram reais? Teria sido enganado por
todo esse tempo? Sabia que se quisesse defender minhas descobertas precisaria
fundamenta-las, a fim de provar que não eram apenas teorias
absurdas. Iniciei por minha conta um estudo de grego koine. Minha vontade
de desvendar os códices e papiros originas era grande. Fui chamado por muitos,
de filho do diabo e ate inimigo da bíblia.
Meus estudos começaram a me colocar em
uma angustia. Eu gostava muito de tocar e viajar nas notas musicais nas igrejas
por onde passava. No entanto me via agora em cima de um muro, entre me calar e
continuar subordinado, tocar minhas melodias e viver uma vida dupla pra agradar
os que me rodeiam, ou sair do meio religioso e conhecer o mundo. Defender algo em que realmente acreditava.
Recordo-me com definição, quando toquei
um baile pela primeira vez em uma banda alemã foi incrível estar em cima
daquele palco. A sensação prazerosa de estar lá em cima é inexplicável.
Nesse mesmo dia, era abertura de uma festa municipal e o pastor da minha igreja
estava lá, veio até mim e disse estar sentindo minha falta na igreja. Já
decidido a me desligar do meio religioso o informei que a partir daquele
momento não queria mais pertencer ao grupo de se diz cristão. Como o porvir não
é uma conta matemática onde o resultado é sempre o mesmo, decide criar meus
próprios pressupostos acerca de um criador.
Foram muitas minhas descobertas e me
encantei com diversas situações no meio do pensamento científico ao longo da
história. Espantei-me quando descobri que Isaque Newton estudou teologia e
chegou à conclusão que a trindade seria uma farsa do segundo século, e acabou
por abandonar esse estudo antes que destruísse mais ainda suas crenças. Charles
Darwin se formou em teologia e até seguiria o sacerdócio se não fosse por suas
coleções coletadas nas excursões pelo mundo que o levaram a teoria da evolução
na qual foi mal interpretado, mas, graças à religião que espalhou sua teoria
tentando ridiculariza-la, foi amplamente divulgada.
Quando Kant revelou suas ideias ao seu
mordomo sobre sua conclusão na teoria do conhecimento, a crítica da razão pura
teórica, de que deus, alma e mundo são ideias pensadas, e, portanto não podem
ser realidades conhecidas. Seu mordomo o repreendeu severamente dizendo lhe:
como você, uma pessoa com tão boa formação religiosa pode chegar a uma
conclusão dessas. O que sua mãe ira pensar disso? Ele disse que não se
preocupasse, pois, o que havia destruído na crítica da razão pura iria
reconstruir na crítica da razão prática.
Foi com essa base que construí meus pressupostos
acerca daquilo que não posso ver ou observar.
O grande erro esta em tratar os objetos
das ideias, do pensamento, como se fossem conteúdos de conhecimento. Ideias das
quais julgo serem as mais importantes, mundo, alma e deus. Aqui esta o grande
equívoco, acreditar que se deve pensar as ideias de mundo, alma e deus
como se pudessem ser objeto de conhecimento e, no entanto pudessem existir.
Quem conhece o real é somente a ciência e somente os fenômenos podem ser
conhecidos.
A partir desse pensamento, de que
essas identidades, esses conceitos que não podem ser conhecidos como fenômenos,
deveriam então ser pressupostos. Aqui então entra a fundamentação para a
legitimação da moralidade humana.
A moral é um fato na realidade humana.
Nós praticamos a moral, não como uma mera circunstância histórica ou cultural,
mas por uma necessidade interna. A moral se impõe ao homem como uma força
universal, assim como a ciência, a moral não se impõe por necessidades
psicológicas, culturais ou sociais, e sim por exigências transcendentais que
constituem a própria estrutura de todos os homens. É proibido matar o próximo,
não devido a leis ou por respeito ao próximo, mas, por uma força interna que
exige bondade. Talvez aqui esteja a real prova que mundo,
alma e deus realmente possam existir. Teríamos
então algo em nosso DNA que nos fora colocado por um criador pra nos tornar
pré-programados a moralidade? Cada característica genética apresenta uma programação
comportamental que é passada para as próximas gerações. Temos dois tipos de
características, as natas e as adquiridas. As natas nascem conosco, já as
adquiridas vem com o passar da vida.
Então quais seriam meus pressupostos
acerca daquilo que não posso ver ouvir ou enxergar? Nos tempos modernos é
possível através da tecnologia ver coisas que seria impossível a olho nu. Uma
câmera em infravermelho emite uma luz que não conseguimos ver, mas, com os
computadores a processar as imagens é possível ver na escuridão.
Tecnologias tais como raios-X, ondas de rádio e outros nos fazem perceber que
mesmo que não vejamos algo com nossos olhos não significa que não estejam lá. O
som não se propaga no vácuo do espaço, mas, se as ondas forem captadas e
processadas, é possível ouvir buracos negros colidirem e estrelas
explodirem. Muitas das crenças e mitos do mundo antigo tiveram que se
dobrar diante da ciência e genialidade de mentes brilhantes como Isaque Newton
e Albert Einstein. Fenômenos que se acreditam ate hoje serem de origem
extraterreste como as bolas de luz que assombraram aviões e das quais existem
inúmeros relatos em todo mundo, hoje é sabido que é de origem dos raios.
Apesar de não se saber ainda como ao certo essas bolas de plasma se formam, não
passam de um fenômeno científico.
No entanto você poderia me perguntar se
eu tenho esperança de uma vida futura. Minha esperança enquanto crença é na
verdade uma aposta. Seja ela boa ou ruim, assim como um homem que beneficia seu
seguro de vida a uma empresa de criogenese para preservar seu cérebro e talvez
o ressuscitar num futuro onde a tecnologia tenha vencida a morte. É uma
simples aposta na qual ele já esta condicionado a morte, mas, tem esperança e
fé na ciência de uma vida após ou sem a morte. Se existir um paraíso ou um céu
com um plano de vida eterna quer queira numa nova terra ou outro plano, ou outra dimensão
de espaço. Já estou grato por poder ter vivido apenas essa vida. Cabe ao meu
criador que concedeu uma vida, decidir se eu mereço uma segunda oportunidade.
Cleiton dos Santos
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