O BEM SUPREMO
Muitos afirmam que a vida é um presente. Não escolhemos como e nem quando nascer mas a miseria humana nos foi concedida mesmo assim. A vida é bela, viver é que não é tao belo assim.
Um suicida prova que a vida não é tao bela assim. Pois, ao querer abandoná-la ele mostra que há algo mais que se quer e que se pode querer, e que, eventualmente, a vida obsta precisamente esse algo mais.
Esse algo mais desejado é o próprio bem. Bem este que pode ser intitulado de prazer, alegria, felicidade ou outra coisa do gênero. Quando alguem decide querer findar a própria vida, quer, com isso, direta ou indiretamente, explícita ou implicitamente, diminuir a dor, o sofrimento, buscando o seu próprio bem.
A questão que aparece é — supondo que o dito faça sentido — o que é o bem?
Se a vida não é o bem supremo, então matar alguém é legítimo em nome do bem supremo? Matar um assassino de crianças que está para matar mais uma criança é obviamente legítimo, se não houver nenhuma outra forma de dete-lo
O bem supremo pode ser considerado o bem de cada um, que é transfigurado para seu prazer pessoal, e, assim, sua vontade e seu desejo. Mas viver em sociedade é justamente abrir mão de sua vontade e seu desejo, ao menos parcial e momentaneamente, em nome dos outros, do bem comum. Em sociedade, todos controlam o bem individual uns dos outros, quase como “já que eu não posso ser feliz, ninguém pode”.
A vida em sociedade preza mais o bem-estar social do que individual. E nota-se que não é possível o primeiro junto com o segundo. Logo, abre-se mão do menor pelo maior. Chega a ser irônico que, após tantos anos de civilização, milionários, bilionários, enfim, acumuladores de bens sejam não apenas tolerados como também aceitos, visto que eles teriam muito mais prazer que todos os demais, e a premissa básica da sociedade é justamente dividir igualmente a miséria, o sofrimento etc. Algo precisou mudar na estrutura social para que isso ocorresse.
Esse algo que mudou foi a imposição de um sistema de leis, isto é, um sistema legítimo que diz o que pode e o que não pode, que consegue convencer as pessoas do que é certo e errado. Sim, é necessário uma moral, um conjunto ordenado de regras, de mandamentos e qualquer outra coisa análoga.
E quem fez e faz as leis, historicamente falando? Não são justa e precisamente aqueles que detêm mais poder? E os que detêm mais poder, não são justa e precisamente aqueles que detêm mais prazer? Sim, como ficou latente e você deve ter notado, o poder é um meio para um fim — o prazer. E quando disseram scientia potentia est, isto é, “saber é poder”, quer dizer que o saber é uma forma de aumentar seu poder, sua capacidade de ação e obtenção de seu desejo, pois adquirindo o desejado você é mais feliz, tem prazer, satisfação etc. É isso o que o saber é, enfim: um meio indireto do prazer, sendo um meio direto do poder.
Alguns podem argumentar, que o bem supremo é o prazer individual, outros, que é o prazer social. Podem ainda argumentar que o bem supremo é Deus e viver a eternidade ao lado dele no paraíso e que, portanto, o bem supremo é a alma imortal e não o corpo mortal. Seria esse o bem supremo?
Cleiton dos Santos
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