A PORTA PARA A PAZ
Perdoar é libertar-se.
É soltar o peso invisível que carregamos na alma, muitas vezes sem perceber. É abrir espaço para a leveza, para o amor, para o recomeço. O perdão não é apenas um ato moral ou ético, é sobretudo um processo espiritual e psíquico. É um trabalho de libertação interna, de cura profunda, que não começa no outro, mas dentro de nós.
Jesus ensinou a essência do perdão. No Evangelho segundo Mateus (6:14-15), Ele diz: “Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará. Mas se não perdoardes aos homens, também vosso Pai não perdoará as vossas ofensas.” Essa não é uma exigência divina punitiva, mas um ensinamento espiritual: quem não perdoa se mantém preso ao ciclo da dor. E, como a psicanálise nos ensina, tudo aquilo que não é elaborado, retorna. O que não se transforma em aprendizado, se transforma em repetição.
Se você deseja trilhar um caminho de paz verdadeira, precisa começar olhando para o início da sua história: seus pais. Eles foram os primeiros espelhos. Talvez não tenham sido os pais ideais, talvez tenham falhado, machucado, ou mesmo abandonado. Mas é fundamental compreender que eles também carregavam as suas próprias dores, feridas não curadas, traumas não elaborados. Ninguém entrega o que não tem. Perdoá-los não é justificar os erros, mas compreender a limitação humana. É olhar para eles com compaixão, não com julgamento. Agradeça pelo que foi possível. Honrar pai e mãe, como diz o mandamento bíblico (Êxodo 20:12), é também aceitar que eles foram instrumentos da vida, e isso, por si só, é um milagre.
Perdoe também aqueles que cruzaram seu caminho e depois partiram. Amigos, amores, familiares, pessoas que deixaram cicatrizes ou vazios. Nem todo mundo está destinado a permanecer. Algumas pessoas vêm para ensinar, outras para despertar, outras para mostrar o que precisamos curar em nós. Quando tentamos reter quem já cumpriu seu papel, nos aprisionamos ao passado. Deixe ir. Deseje paz e cura a todos que passaram. Como Jesus disse na cruz, diante da maior injustiça: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem.” (Lucas 23:34). Essa frase não é apenas uma súplica; é um convite para nos libertarmos da amargura.
Perdoe os que te feriram, mesmo que nunca reconheçam o que fizeram. Você não precisa de um pedido de desculpas para perdoar. Você precisa de paz. Guardar mágoas é como tomar veneno esperando que o outro adoeça. A mágoa contamina a alma, fecha os caminhos da vida. O perdão não é um presente que damos ao outro, é um presente que damos a nós mesmos. Como diz Carl Jung: “Aquilo a que você resiste, persiste. Aquilo que você aceita, se transforma.” Perdoar é aceitar que o passado aconteceu, mas que ele não precisa definir o seu futuro.
E, talvez o mais difícil: perdoe a si mesmo. A versão de você que errou, que não sabia, que se perdeu, que machucou. Todos nós temos sombras, todos já fizemos escolhas equivocadas. Mas há uma diferença fundamental entre culpa e responsabilidade. A culpa te paralisa, te afunda, te condena. A responsabilidade te desperta, te convida a crescer, a reparar, a evoluir.
Olhe para si com ternura. Sinta a dor dos seus erros, sim, mas não permaneça neles. O perdão é um abraço que damos à nossa própria alma. É dizer: “Eu reconheço que errei, mas escolho continuar. Escolho crescer.” Na visão psicanalítica, esse é um passo fundamental para a individuação, tornar-se quem se é de verdade, integrando luz e sombra, passado e presente.
Perdão não é fraqueza. Pelo contrário, é um dos maiores atos de coragem que um ser humano pode realizar. É preciso força para olhar a própria dor e transformá-la em compaixão. É preciso maturidade para soltar o que machuca. É preciso fé para acreditar que o amor é maior do que a ferida.
Deixe para trás o que te impede de caminhar. Solte o que pesa. Liberte-se das amarras invisíveis. Caminhe em direção à sua felicidade, ao seu propósito, ao amor que te espera. "...as coisas antigas já passaram; eis que tudo se fez novo.” (2 Coríntios 5:17). Que você tenha coragem de perdoar, os outros, seus pais, e principalmente, a si mesmo. E que, assim, encontre a liberdade que só o amor é capaz de dar.
Cleiton dos Santos
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