A VONTADE HUMANA
A vontade humana, sob a luz da psicanálise, revela-se como um reflexo profundo das forças inconscientes que nos habitam. Muitas vezes, acreditamos que sabemos o que queremos, mas, na verdade, o desejo não é algo totalmente consciente ou racional. Como ensina Freud, o desejo é estruturado a partir do inconsciente e, frequentemente, carrega marcas de faltas primitivas, conflitos infantis e projeções inconscientes. Assim, a vontade pode tanto nos humilhar ao nos negar aquilo que ansiamos quanto nos iludir ao permitir sua realização.
Há um perigo sutil nesse processo: podemos desejar intensamente aquilo que, em um nível mais profundo, não é realmente o que nos fará bem. Lacan, ao reinterpretar Freud, aponta que o desejo humano não é pelo objeto em si, mas pela falta que ele representa. É por isso que, ao conquistarmos certos desejos, sentimos uma estranha sensação de vazio, porque aquilo que buscávamos não era o objeto, mas a ilusão que ele sustentava.
Em experiências movidas pela paixão, como o amor, essa dinâmica se intensifica. Projetamos no outro nossas carências, nossas idealizações, e acreditamos estar vivendo algo sublime. No entanto, frequentemente estamos apenas alimentando uma fantasia inconsciente que pode nos consumir. O amor, nesse sentido, pode ser menos uma relação com o outro e mais um espelho dos nossos próprios desejos não resolvidos.
Diante disso, é necessário cultivar um olhar analítico sobre o que desejamos. O desejo não é errado em si, mas precisa ser compreendido em sua origem e em seu significado mais profundo. A psicanálise nos convida a não tomar nossos impulsos como verdades absolutas, mas a escutá-los como mensagens do inconsciente que merecem investigação e elaboração.
Portanto, cuidado com o que deseja. Nem tudo o que parece realização é salvação. Às vezes, o que chamamos de vontade é apenas um eco de feridas antigas tentando se expressar, e só a consciência sobre isso pode nos libertar do ciclo de ilusão e frustração.
Cleiton dos Santos
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