Moralidade além da religião
Muitos ainda acreditam que sem religião não há moral. Que se alguém não acredita em Deus, então nada o impede de mentir, roubar ou cometer atrocidades, como se o único alicerce da ética fosse o medo do inferno. Mas pense comigo: se sua bondade depende da ameaça de um castigo eterno, isso não é moralidade, é obediência.
A verdadeira ética, ao que tudo indica, não nasce do temor, mas da empatia. Surge da consciência de que nossas ações têm impacto sobre os outros, da compreensão de que ferir alguém é errado não porque está escrito em algum livro, mas porque sentimos que o sofrimento alheio importa.
Como disse Albert Einstein:
“Uma pessoa faz o que é certo não por causa de mandamentos religiosos, mas porque é humano e sente compaixão.”
Einstein defendia que a moralidade é uma construção humana, baseada na empatia, educação e laços sociais, não em dogmas religiosos. Em seu livro The World as I See It (1949), ele afirma:
“A conduta ética de um homem deve basear-se efetivamente na simpatia, na educação e nas necessidades sociais; nenhuma base religiosa é necessária. O homem estaria realmente em uma situação deplorável se tivesse que ser contido pelo medo de punição e pela esperança de recompensa após a morte.”
Fonte: The World as I See It (1949), p. 62.
Além disso, em uma carta de 1950, Einstein escreveu:
“A moralidade é de extrema importância, mas para nós, não para Deus.”
Fonte: Albert Einstein: The Human Side, editado por Helen Dukas e Banesh Hoffman (1981), p. 95.
Se a religião fosse, de fato, a fonte última da moral, como explicar os incontáveis atos questionáveis cometidos em seu nome? A escravidão, por exemplo, foi justificada por séculos com passagens bíblicas. Guerras foram travadas invocando deuses, e até hoje pessoas são perseguidas por viverem fora dos padrões religiosos impostos.
Bertrand Russell, filósofo britânico, também refletiu sobre isso:
“A religião é baseada principalmente no medo... medo do desconhecido, do fracasso, da morte. E, na minha visão, não é necessário temer para se comportar decentemente.”
Russell argumentava que a moralidade baseada em dogmas religiosos tende a perpetuar crueldades e limita o progresso ético. Em seu ensaio Why I Am Not a Christian (1927), ele escreveu:
“As objeções à religião são de duas ordens, intelectual e moral. A objeção intelectual é que não há razão para supor que qualquer religião seja verdadeira; a objeção moral é que os preceitos religiosos datam de uma época em que os homens eram mais cruéis do que são agora e, portanto, tendem a perpetuar inumanidades que a consciência moral da época de outra forma superaria.”
Fonte: Why I Am Not a Christian and Other Essays on Religion and Related Subjects (1957), p. 12.
Ele também afirmou:
“Qualquer sistema de moralidade que tenha uma base teológica torna-se uma das ferramentas pelas quais os detentores do poder preservam sua autoridade e prejudicam o vigor intelectual dos jovens.”
Fonte: Why I Am Not a Christian and Other Essays on Religion and Related Subjects (1957), p. 15.
Ser ético não deve ser um exercício de obediência cega, mas de consciência lúcida. Você pode, e deve, escolher ser bom e justo independentemente de dogmas. E se por acaso seu livro sagrado pregar algo que vá contra o senso de justiça e compaixão, talvez seja hora de revisitar seus conceitos. Talvez não seja o texto, mas o viés com que se lê, que precise ser transformado.
Não estou aqui para desmerecer qualquer tradição religiosa. Todos os textos sagrados têm valor histórico, cultural e filosófico. Mas é essencial compreendermos o contexto em que foram escritos, o pensamento da sociedade da época, suas limitações e avanços. Somente assim conseguimos evoluir, aprender com o passado sem ficarmos presos a ele.
Immanuel Kant propôs que a moralidade deve ser fundamentada na razão e na capacidade humana de agir de acordo com princípios universais, independentemente de recompensas ou punições divinas. Em sua obra Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), ele formulou o imperativo categórico:
“Age apenas segundo aquela máxima pela qual possas ao mesmo tempo querer que ela se torne uma lei universal.”
Fonte: Fundamentação da Metafísica dos Costumes (1785), p. 30.
Esse princípio sugere que a moralidade é uma questão de razão prática e não depende de crenças religiosas.
Transcender é isso: seguir em frente com consciência, empatia e reflexão. Evoluir não é abandonar a tradição, mas superá-la com sabedoria.
Cleiton dos Santos
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