O Mistério da Transformação
A química é, em sua essência, a ciência das transformações. Átomos que se rearranjam, moléculas que se unem ou se separam, substâncias que mudam de cor, cheiro, estado ou energia, tudo em resposta a interações invisíveis, mas precisas.
Essas transformações químicas nos ensinam algo essencial: nada permanece estático, e até mesmo o que parece sólido e imutável está, em algum nível, em constante movimento, evolução e reação. Assim também é com o ser humano.
A filosofia, por sua vez, observa essa constante mudança e pergunta: quem somos nesse fluxo? Se tudo se transforma, onde está a essência do “eu”? O que nos mantém sendo “nós” ao longo das transformações físicas, emocionais e mentais? Seríamos como o fogo, que é sempre chama, mas nunca a mesma? Ou como a água, que assume todas as formas, mas continua sendo água?
A religião, por fim, olha para essas mesmas transformações e acrescenta um sentido: há um propósito maior por trás de toda mudança. Assim como uma reação química pode liberar luz ou gerar calor, o sofrimento pode nos purificar, e a fé pode nos elevar. Para o hinduísmo, tudo é manifestação de Brahman; para o cristianismo, Deus é o Alfa e o Ômega, o início e o fim de todo processo. No budismo, o ego é como uma ilusão química: uma junção temporária de elementos que se dissolvem com o tempo. No Islã, Allah é o alquimista supremo, aquele que conhece os segredos da transformação dos corações.
Somos, portanto, reações vivas entre o espírito e a matéria. A alma se manifesta nas pequenas "reações" diárias: um gesto de compaixão, uma escolha ética, uma busca pela verdade. Cada uma dessas ações altera a “substância” da nossa existência.
Assim como o alquimista buscava transformar o chumbo em ouro, nós buscamos transformar o sofrimento em sabedoria, o erro em perdão, o vazio em fé. E talvez essa seja a mais bela das reações: aquela que transforma o humano no divino, não por magia, mas por consciência.
Cleiton dos Santos
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